Senna eterno: séries revisitam história do piloto nos 30 anos de sua morte

Personagem muito rico em histórias e conteúdo produzido durante os últimos 40 anos, Ayrton Senna ganha mais duas minisséries no streaming em 2024, quando se completam 30 anos de sua morte, em 1 de maio de 1994. Na quarta-feira (1), a Globoplay estreia o documentário “Senna por Ayrton”, enquanto a Netflix prepara a ficção ‘Senna’, ainda sem data de lançamento.
As produções refazem os passos do tricampeão de Fórmula 1 tanto na pista quanto fora dela. E têm o objetivo de alcançar não apenas os fãs que o viram brilhar nas pistas, mas também perpetuar Senna mostrando às novas gerações quem ele foi, o que fez e sua importância para o Brasil e o automobilismo. Cada uma com uma ideia diferente para entregar.
“Senna é um personagem muito fácil de ser contado, porque ele é muito grande, é uma trajetória muito curiosa e interessante”, afirma um dos diretores da produção da Globoplay, Rafael Pirrho.
Também à frente de outros documentários no streaming, como de Eurico Miranda e do título da Libertadores do Fluminense, Pirrho teve muito material os três capítulos. Foram mais de 150 horas de arquivos da Globo sobre Ayrton Senna, além de outros canais de TV. Uma vasta pesquisa para a proposta de mostrar declarações do próprio piloto à imprensa, para contar sua história, numa espécie de autobiografia.
“Era um desafio fazer um documentário que pudesse trazer uma abordagem diferente. É todo contado sob o ponto de vista, a perspectiva, a verdade dele. E o que a gente encontra são pérolas de arquivo. Não são novidade porque estamos falando de uma carreira que foi muito contada. São coisas que as pessoas não viram ou não lembram”, diz o diretor.

As declarações de Senna e Piquet à imprensa

Documentário ‘Senna por Ayrton’ tem passagem com entrevista do piloto feita pelo cantor Roberto CarlosReprodução de vídeo / Senna por Ayrton
Uma dessas pérolas é uma entrevista feita pelo cantor Roberto Carlos, que dirige seu carro e conversa com Senna, em 1988, logo após o primeiro título mundial. Há também passagens sobre o relacionamento com Xuxa e as férias em Angra dos Reis. Mas o foco principal é contar a trajetória do píloto, desde o primeiro carrinho de rolimã, aos quatro anos, passando pela dificuldade no início de carreira, quando foi morar na Inglaterra, até a Fórmula 1.
Senna comenta sobre os testes em 1983 por Williamns, Lotus e McLaren, e a dificuldade de encontrar um lugar para a temporada de 1984. Depois, são declarações ao longo de cada temporada por Toleman, Lotus e McLaren para apresentar como foi cada ano. Chama a atenção a relação com o desafeto e também tricampeão Nelson Piquet através da imprensa, no primeiro de três capítulos.
São falas que começam frias dos dois lados e vão evoluindo a provocações e ironias, até insinuação de Piquet de que o rival seria homossexual, esta parte não foi aprofundada. “A gente saber da história é uma coisa. A outra é ouvi-lo contando. Eram pilotos muito diferentes, ambos muito talentosos. E claramente você vê essa relação deteriorando, com incômodo de um com o outro”, afirma Pirrho.
O mesmo acontece com Prost. Vê-se a rivalidade crescer aos poucos na McLaren, na conquista do primeiro título em 1988. As polêmicas disputas que terminam em batidas propositais dos dois para definir os campeonatos – em 1989 para o francês e 1990 para o brasileiro – são o ápice da briga entre os dois gênios, contadas no segundo episódio, que foca no auge, até o tricampeonato, em 1991.
“São coisas diferentes as relações de Senna com Piquet e Prost. Senna, em 88, elogia Prost, que já era bicampeão. E você vê que a rivalidade vai escalando um pouquinho ao longo daquele campeonato. Fala muito da competitividade do Senna, e isso também acho que trouxe essa aura de ídolo, sempre foi muito incisivo, muito agressivo, às vezes criticado por outros pilotos. Mas também era muito legal de torcer”, avalia.

A agonia nos últimos três anos

A carreira de Senna, então, entra numa dificuldade que até então não havia encontrado na Fórmula 1. A angústia dele por não conseguir competir com as Williams, em 1992 e 1993, é evidente nas declarações. Assim como o seu grande desempenho no último ano de McLaren, com corridas históricas, como as vitórias no GP do Brasil e na pista de Donington Park, ambas sob chuva.
E o documentário termina com o sonho virando tragédia na Williams em 1994. O desconforto do piloto – com a mudança das regras e, principalmente, com o carro diante de uma poderosa Benetton de Michael Schumacher, – aumenta essa angústia. Principalmente por sabermos o final dessa história, no fatídico GP de San Marino, com a forte batida que mataria Senna e abalaria um país inteiro, acostumado a vê-lo vencer e dar alegria a um povo que vinha de crises econômica e política muito pesadas.
“É o melhor piloto do grid, mas não tinha o melhor carro, não conseguindo ganhar em 92 e 93. E depois você tem Senna na melhor equipe, pensa que vão ser felizes, cria expectativa de que ele baterá todos os recordes. E acontece o que aconteceu.  É um momento muito difícil pra gente entender como vai contar, mas também ajuda a dimensionar quem ele foi”, diz o diretor, que completa:
“A morte dele é muito impactante na história do Brasil. Isso ultrapassa esporte, Fórmula 1 e traz muitos sentimentos. Ao mesmo tempo, acho que dá a grandiosidade de quem foi Senna. Ele atingiu um nível de idolatria que eu nunca vi e não sei se veremos de novo. Era mais do que ídolo, era uma espécie de herói”.

Série ‘Senna’ na Netflix

Série ‘Senna’, da Netflix, tem o ator Gabriel Leone interpretando o piloto brasileiroDivulgação / Netflix
Inicialmente prevista para ser lançada em 2023, a série da Netflix sobre Ayrton Senna adiou a entrega para 2024, após troca de direção e outros problemas. Dividida em seis episódios, a produção, que promete focar mais nas relações pessoais e na personalidade, também contará a trajetória de Senna, só que através da ficção. E começa com os primeiros passos na Europa, na Fórmula Ford, até a morte do piloto.
O ator Gabriel Leone interpreta o tricampeão mundial, enquanto Pâmela Tomé será Xuxa e Gabriel Louchard, Galvão Bueno. Já o francês Matt Mella dará vida ao rival Alain Prost. A direção é de Vicente Amorim.
Com uma produção internacional, a maioria das gravações aconteceu na Argentina – cenas de corrida foram nos autódromos de Buenos Aires, Balcarce e San Cayetano -, mas também em São Paulo, Angra dos Reis (RJ), Uruguai e Reino Unido.
A minisérie será em dois idiomas, com o português quando os momentos forem no Brasil e o inglês, quando Senna está no exterior.

Produções buscam alcançar fãs do tricampeão de F-1, mas também apresentá-lo a novas gerações

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