‘Sem ética’, ‘sem caráter’ e ‘duas caras’: ex-dirigente do Inter critica Paulo Sousa e conta detalhes da negociação com o futuro ex-técnico do Flamengo

Paulo Sousa não é mais treinador do Flamengo desde o apito final da derrota para o Red Bull Bragantino, na última quarta-feira, por 1 a 0. Os dirigentes voltaram para o hotel, após o duelo, já com a demissão tomada, mas o português só foi comunicado na tarde desta quinta-feira, no primeiro treino preparatório para pegar o Internacional, clube que o treinador e o seu estafe “usou” para fechar com o Rubro-Negro em dezembro. Dorival Júnior será o substituto.
Poucos sabem, mas quando ainda era treinador da seleção polonesa, Paulo Sousa e seu agente, Hugo Cajuda, se reuniram e chegaram a ter um acordo com o Internacional, outro clube brasileiro que na ocasião estava em busca de um comandante.
O Jornal O DIA conversou com Paulo Bracks, então diretor executivo do Internacional e quem negociou diretamente com Paulo Sousa e seu representante à época. Desligado do Colorado no começo de março, Bracks decidiu abrir o jogo e contou detalhes da “jogada” do comandante português, que, segundo ele, foi “sem ética”, “sem caráter” e “duas caras”.
“Sim, nós (o Internacional) procuramos o Paulo Sousa e seu staff em dezembro, quando estávamos sem treinador (após a saída do Aguirre). Chegamos a ter mais de uma reunião com os intermediários, Hugo e Bruno, e com o próprio Paulo, que ainda era o técnico da seleção da Polônia à época. Em uma reunião ele estava lá, inclusive, após um jantar com o presidente da Federação. Segundo eles, a diretoria (da seleção) estava ciente, o que nos permitia a conversa. Não deu certo, e te digo o porquê: não estávamos na mesma sintonia e não tínhamos os mesmos valores. Nós avançamos até um ponto em que ficou claro que eles não estavam conversando somente conosco. Erraram ao nos subestimar. Estavam jogando. Conhecemos o mercado e não foi difícil saber a verdade. Eles já estavam conversando com o Flamengo, e pessoalmente, porque os diretores estavam lá em Portugal. Não iam (Marcos Braz e Spindel) voltar sem técnico e já tinham levado pelo menos um “não” por lá. E o Paulo já havia retornado pra Portugal. Soubemos de tudo passo a passo. O Flamengo estava no direito e interesse dele. E é do jogo. Zero problema. Agora, o cara que se diz profissional sentar pra conversar com você, com o presidente do seu clube, e fazer duas caras, é que não dá. Eles estavam fazendo jogo duplo, falava com um e depois falava com o outro. E, imediatamente, quando soubemos disto levantamos da mesa. Não sem antes falar algumas verdades. O Paulo mesmo sumiu de uma hora pra outra. Até hoje. Pra mim, não foram éticos e não tiveram caráter. Longe disto. Agora, futebol dá voltas, às vezes rápidas demais”, disse Bracks ao Jornal O DIA.
A reportagem também procurou Hugo Cajuda, empresário de Paulo Sousa, para ouvir o lado do treinador. Mas o representante apenas disse que “não tem nada de falar sobre isso”.
Em dezembro, para quem não lembra, Bruno Spindel e Marcos Braz, dirigentes do Flamengo, viajaram para Portugal em busca de um treinador. Jorge Jesus era um dos alvos, mas o treinador não se mostrou disposto a deixar o Benfica, e a dupla rubro-negro virou a mira para Paulo Sousa, com quem estava apalavrado com o Internacional.
Paulo Sousa, então, voltou atrás na decisão com o Internacional, aceitou a proposta do Flamengo de duas temporadas e iniciou os trabalhos em janeiro. Após seis meses, resultados negativos e títulos perdidos, o português é demitido.
Curiosamente, Paulo Sousa é demitido, ainda não de maneira oficial (inclusive deu treino nesta quinta-feira sabendo que será desligado) na antevéspera do jogo contra o Internacional, clube que chegou a encaminhar acordo. Agora, o Flamengo pagará uma multa rescisória que gira na casa dos R$ 7 milhões para se desligar de Paulo Sousa.
Dorival Junior, que deixou o Ceará após aceitar proposta do Flamengo, já se despediu dos jogadores e diretoria do Vovô e se apresenta em breve ao Rubro-Negro carioca, com vínculo até dezembro deste ano.

Paulo Bracks revelou bastidores da postura do português em dezembro, quando ainda era comandante da seleção polonesa

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