Não há inocentes em desastre do Flamengo
Arrascaeta se lamentando pelo Flamengo – Foto: Divulgação
BLOG DO RODRIGO MATTOS: Seria fácil colocar na conta só do técnico Vitor Pereira a atuação ruim do Flamengo na Recopa perdida para o Independiente Del Valle. Outra alternativa seria culpar a diretoria pelas férias prolongadas, pre-temporada curta e troca de treinador (necessária). Uma terceira opção é apelar ao sensacionalismo e apontar falta de raça de jogadores.
A realidade, no entanto, é mais complexa: a perda do título da Recopa tem culpa de todos os envolvidos no Flamengo, jogadores, técnico, diretoria, em diferentes parcelas. Todos eles, membros de um clube milionário, perderam para uma equipe com claras limitações técnicas (Del Valle), ainda que bem armada.
Haverá quem argumente que o Flamengo concluiu 26 vezes a gol na decisão no Maracanã com mais de 70 mil pessoas (pareceu menos gente). Mas só quatro desses arremates foram na direção da meta. E o Del Valle, em casa, também teve número similar de chutes. Jogo jogado.
Ora, o elenco mais caro da América do Sul começou com enormes dificuldades para encontrar caminhos diante de um Del Valle diferente do habitual. O time equatoriano não se abriu como de costume, e não fez questão da posse de bola. Armou uma linha de cinco defensores, sendo que estes atuavam em uma linha bem adiantada.
Resultado, no início, o Flamengo tinha a bola (63% de posse), mas tinha pouco espaço para circulá-la no meio. Seria necessário apostar em bolas de profundidade para pegar a linha adiantada do Del Valle.
Só que o principal lançador do Flamengo, Arrascaeta, talvez tenha tido uma das suas piores atuações com a camisa rubro-negra. Para se ter ideia, acabou só com 63% de passes certos. Errava tudo, assistências, toques simples, conclusões. Isso pode ter passado desapercebido nas discussões sobre herói e vilão por ele ter marcado um gol no fim e ter perdido pênalti. Além disso, faltava um jogador de velocidade para ser acionado.
Mas o uruguaio não era o único do quarteto com futebol pobre. Circulando fora da área, Gabigol esteve também bem pouco produtivo e não entendeu como explorar a linha defensiva equatoriana. Pedro não conseguia ganhar bolas, fazer pivô, gerar jogo. Everton Ribeiro também capengou depois do intervalo a ponto de perder a posse em que lance em que conduzia lentamente a pelota no campo rubro-negro.
A formação de Vitor Pereira, apesar dos autoelogios do português que vê evolução, também não funcionou. Cabia ao frescor dos laterais Ayrton Lucas e Varela gerar chances pelas pontas que levaram a dois arremates na trave. Mas, fora isso, faltava ao Flamengo a fluidez de tabelas de anos anteriores.
O jogo era prejudicado também pelo excesso de paradas do árbitro. Permitia cera e demorava incontáveis minutos para revisões de VAR.
O cenário piorou no segundo tempo. Um time parecendo cansado não conseguia mais criar diante do Del Valle, limitando-se a chuveiros na área. Vitor Pereira demorou muito para trocar. As entradas de Everton Cebolinho e Matheus Gonçalves, pelas pontas, pelo menos deram as alternativas das jogadas em profundidade pelas pontas. O menino da base, 17 anos, destacou-se pelos dribles embora com dificuldade de acertar os passes ou chutes finais. E Everton deu o passe do gol derradeiro.
Mas faltava punch aos titulares. Talvez fruto das férias prolongadas dadas ao elenco que voltou quase no final de dezembro. Lembremos que Dorival Jr, que alguns acham que deveria ficar, defendia férias ainda maiores até o início de dezembro. A decadência rubro-negro iniciou-se no final da sua gestão.
Essa cultura de comodismo promovida no departamento de futebol rubro-negro gera, de uma certa forma, os problemas rubro-negros, bem abaixo de rivais em intensidade. Para completar, a maior parte do time parece em má fase técnica.
O desespero levou ao gol de Arrascaeta. Saiu quando o Flamengo estava mal e a torcida já apupava o time. Mas não foi suficiente para mudar a cabeça rubro-negra. Seguiu jogando de forma aleatória, e nem mais 30min de prorrogação foram suficientes para alterar o placar.
Ao final, diante dos desempenhos dos times nas duas finais, a decisão nos pênaltis fez sentido. De novo, Gabigol, o melhor batedor, não cobrou a primeira penalidade. O desperdício de Arrascaeta enterrou de vez o Flamengo.
O saldo do jogo é que chegou a hora de o time rubro-negro se reinventar, remontar seu time, desapegar das memórias de títulos das últimas temporadas. Não se trata de terra arrasada, demissões e barcas. É preciso fazer mudanças estruturais no time, colocar estrelas em má fase no banco, encontrar uma nova fórmula. Cabe a Vitor Pereira esse papel, mas, por enquanto, não dá sinais de enxergar um caminho.
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