Flamengo fecha janela com marca consolidada no mercado mundial

Gabigol e Arturo Vidal no Flamengo – Foto: Marcelo Cortes

O GLOBO: Por Diogo Dantas

O Flamengo encerrou mais uma janela de transferências no topo da cadeia alimentar do futebol e com um recado claro ao mercado: além de ser um clube com capacidade de investimento pesado, como foi no caso de Everton Cebolinha, a marca deixada e cada vez mais consolidada internacionalmente é de um porto seguro para atletas de ponta. Inclusive os que têm mercado na Europa.

Se Cebolinha deixou o Benfica por 16 milhões de euros (R$ 82,9 milhões na cotação atual) aos 26 anos para voltar a sonhar com a seleção brasileira, as outras contratações vieram a baixo custo. Mas também tiveram como foco chamar atenção em uma vitrine mundial para, quem sabe, retornar a um clube de ponta europeu ou jogar uma Copa.

Quando o chileno Pulgar, 28 anos, recebeu o contato do Flamengo, avisou à Fiorentina-ITA que queria ser negociado. O clube carioca disse aos italianos que precisaria ajustar a proposta de compra. Mas ouviu que a fizesse sem pressão, pois o atleta já havia definido seu destino, mesmo com outras alternativas sobre a mesa. A escolha pelo rubro-negro também foi a principal razão para o uruguaio Varela acionar a cláusula da Fifa sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e deixar o Dínamo de Moscou, por empréstimo.

Mas o movimento que consolidou a marca Flamengo no mercado internacional com mais consistência do que em 2019 foi o de Arturo Vidal. Ainda que não tenha gastado um real na aquisição, trazer o veterano de 35 anos remeteu aos primeiros grandes aportes no mercado, quando o clube consolidou a formação do atual elenco com Diego, Everton Ribeiro, e posteriormente com Gabigol, Rafinha e Filipe Luís. A diferença para agora é que, além do investimento em atletas cair de 50 milhões de euros para menos de 20 milhões de euros, tem sido possível trazer jogadores mais jovens, de diferentes centros e nacionalidades.

— A chegada do Vidal foi muito importante, é um jogador internacional, mas a marca mundial do Flamengo já é boa — atesta o empresário André Cury.

O patamar mundial do Flamengo mudou não só no sentido de torná-lo um player relevante no mercado da bola, mas também em termos de competitividade. A estimativa de valor do elenco atual (163,9 milhões de euros ou R$ 849,9 milhões, segundo o site especializado Transfermarkt) o coloca entre os plantéis mais valiosos nas sete ligas mais importantes do mundo, além de ser o número 1 do Brasileirão.

Ainda que ficasse numa modesta 20ª colocação na Premier League (à frente apenas do elenco do Bournemouth), o grupo rubro-negro conseguiu furar a bolha da liga mais cara do planeta. Outro sinal de mudança de status é que na La Liga (Espanha) e na Serie A (Itália), o plantel do clube carioca seria o 10º mais valioso. Já na Eredivise (Holanda), só ficaria abaixo, em valor de mercado, dos de Ajax e PSV.

Os reforços da janela internacional têm papel importante nesta ascensão. Só os quatro agregaram 26 milhões de euros em valor de mercado (R$ 134,8 milhões). Mas a construção desta imagem não começou este ano. Em 2016, Diego Ribas teve que ser convencido a deixar a Alemanha para um novo projeto que se iniciava no Flamengo. O advogado Marcos Motta, que fez a operação, ligou para o meia para explicar qual era o plano do rubro-negro, que o clube tinha mudado. O mesmo ocorreu com Everton Ribeiro no ano seguinte. A partir de 2019, o Flamengo abriu o cofre e honrou pagamentos por Gabigol, Gerson e Pedro.

— Se o jogador não tiver segurança que não vai receber, não vem. Clientes e clubes, que comandam a pirâmide, já veem o Flamengo como porto seguro para operações. Antigamente preferiam jogar em time de segunda linha na Europa do que voltar para o Brasil. Agora consideram os brasileiros que têm saúde — explicou Motta, que também participou da montagem do elenco do Flamengo em 2001, na parceria com a ISL, e do Corinthians de 2006 na parceria com a MSI.

Naquela conjuntura, os operadores financeiros e patrocinadores por trás dos clubes é que davam as garantias de pagamento para contratações como Denilson, Gamarra e Juninho Paulista do lado do Flamengo, e Mascherano, Tévez, Nilmar e Carlos Alberto do lado do Corinthians.

— Não tem jogador pedindo garantia bancária. A garantia é a assinatura do presidente — diz Motta.

As saídas de Arão e Gustavo Henrique não foram no patamar das grandes negociações, mas ajudam a entender a inserção do Flamengo no mercado internacional, justamente por não se tratarem de atletas que vieram da Europa, e que também não são recém-saídos da base. Nesta temporada o clube lucrou até agora entre 20 e 30 milhões de euros no saldo parcial.

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