Dorival Jr ouve a ciência e repara erro de Paulo Sousa no Flamengo
Dorival Jr com a bola em treino do Flamengo – Foto: Marcelo Cortes
O GLOBO: Por Diogo Dantas
Enquanto outros clubes da Série A agonizam em função do excesso de lesões, o Flamengo olha para trás e vê que o pior já passou. A decisão de rodar o elenco entre os jogos do Brasileiro e as Copas em disputa passa por uma reformulação nos processos do departamento médico do clube junto à comissão técnica. Há mais de dois meses sem atletas com problemas musculares, o técnico Dorival Jr tem podido aproveitar o grupo em sua plenitude, e ainda contará com novos reforços. A pré-disposição da nova comissão em levar em conta os dados científicos que são passados pesa a favor.
A verdadeira lavagem de roupa suja ocorreu sob o comando de Paulo Sousa. Houve uma série de reuniões com cobranças do presidente Rodolfo Landim e do vice de futebol Marcos Braz sobre o trabalho chefiado pelo médico Márcio Tannure. Mas investigações internas e estudos apontaram que o problema não era a falta de trabalho, mas o excesso. Mesmo orientados com informações para controlar a carga dos atletas, a comissão portuguesa pegou pesado demais em alguns momentos, em função do desconhecimento da particularidade do Brasil e de seu calendário caótico de jogos e viagens.
Em uma delas, a delegação chegou ao Rio às 5h, tomou café, dormiu no Ninho do Urubu e foi para o campo treinar às 10h. Foi quando o goleiro Santos teve uma lesão muscular mais grave. Mais adiante, levantamento interno apontou que o problema se repetiu com outros atletas em níveis menores, mas que o desgaste por não se preocupar tanto com o sono cobrava o preço. Assim, o Flamengo mudou a logística e passou a abrir mão de atividades matinais após os jogos à noite, sobretudo fora de casa. O clube comparou dados com outros clubes e com os próprios e viu que havia um índice de lesões maior do que o normal. Na ocasião, a equipe percorreu 54 mil quilômetros em 35 dias.
Mais ouvidos para a ciência
O cenário de cobrança aos profissionais do departamento médico foi revertido. Com a comissão técnica fragilizada pelas escolhas, a diretoria deu maior voz aos profissionais do clube. E os portugueses deram maior abertura para que as orientações de Tannure fossem colocadas em prática junto ao que eles haviam trazido. Com Dorival, que já trabalharam com o médico, a situação se aperfeiçoou no último mês, com controle de carga ainda mais refinado. Um dos casos mais emblemáticos foi de Filipe Luís, que passou a ter mais tempo para fazer trabalhos de força, ao revezar com Ayrton Lucas. Assim, o veterano recuperou sua melhor forma e segue como titular.
No trabalho de academia e na transição para o campo, o clube se qualificou com a chegada do americano Michael Minthorne, que veio ser o novo coordenador científico após passagem temporária na gestão anterior, com a empresa EXOS. O Flamengo também trouxe o fisiologista Tadahi Rara, que estava no Athletico-PR. Michael precisou fazer quarentena pois teve Covid-19, voltou aos Estados Unidos na semana passada, mas já retornou para o dia a dia no Ninho do Urubu. Após a chegada dos profissionais, o clube descartou trazer novos preparadores físicos. Conta com a abertura de Celso Rezende, que integra a comissão de Dorival.
A autonomia e integração maiores permitem que os atletas se sintam ouvidos no aspecto clínico, e a relação entre desempenho e resultado começa a aparecer novamente. Internamente os profissionais do clube se sentiam expostos e com o trabalho questionado, sem ver associação entre as constantes mudanças de comissão técnica, que influenciam diretamente nas metodologias e no excesso de lesões. Hoje, apenas Rodrigo Caio, Bruno Henrique e David Luiz estão no departamento médico. O primeiro após um entorse no joelho esquerdo, o segundo com o joelho direito operado, e David Luiz com dores após pancada no jogo contra Atlético-MG no Maracanã.
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