Bolsonaro e Lula disputam votos de atletas, mas ignoram o esporte

Lula e Bolsonaro – Foto: Reprodução

ESPORTE NEWS MUNDO: Por Giu Furtado

O tão aguardado dia 30 de outubro no Brasil está cada vez mais próximo e traz para o mundo da bola, uma avalanche de incertezas que foram apresentadas pelas campanhas dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o esporte, em especial o futebol, onde ambos fazem juras de amor mas não querem comprometimento.

Os dois candidatos rejeitaram assinar a carta compromisso com o esporte brasileiro desenvolvida pela Rede Esporte pela Mudança Social (REMS), e tanto seus programas eleitorais quanto os debates televisivos, a área do esporte é uma escassez de ideias. Ainda no primeiro turno, nenhum dos candidatos assinou outra carta desenvolvida pela ONG Atletas pelo Brasil.

O tema foi um dos menos citados pelos candidatos durante suas campanhas presidenciais, “Acho que ficou meio escanteado, porque geralmente não é um tema muito debatido na política. Acho que deveria ser mais, porque o esporte é capaz de mudar vida das pessoas. Deveriam ter mais ações sociais voltadas ao esporte, juntamente com a educação“, argumenta, Arthur Lage, repórter da Esporte News Mundo.

A REMS reúne aproximadamente 168 empresas que utilizam do esporte para o desenvolvimento social e humano através de ações humanitárias e educativas que impactam a vida de um milhão de brasileiros. A ONG Atletas pelo Brasil é uma entidade militante que luta pelo desenvolvimento de políticas públicas para o setor.

Para o esporte, Bolsonaro apresenta em seu plano de governo três pontos; “A aprovação do Plano Nacional do Desporto e com o fortalecimento do Sistema Nacional do Desporto, difundir o Paradesporto para garantir a inclusão social e o pleno direito à cidadania da pessoa com deficiência ao mundo do esporte e aumentar o alcance dos projetos (de Lei de Incentivo) em todo território nacional”, no entanto, não específica como e nem quando o colocará em prática.

O candidato Lula, não apresenta um desenvolvimento das pautas de esporte mas defende duas propostas; “A democratização e descentralização do acesso ao esporte e ao lazer promovem desenvolvimento, combatem a violência e constroem a cidadania. Propomos políticas universais de garantia dos direitos ao esporte e ao lazer, de acordo com a Constituição Federal de 1988. O fomento ao esporte e ao lazer será reinserido na agenda nacional, incentivando a atividade esportiva nas suas várias dimensões”.

O ex-presidente se reuniu em setembro, antes do primeiro turno, com personalidades influentes do esporte para discutir um plano nacional para o setor, o encontro não consta em seu programa de governo ou que foi citado em seu programa eleitoral. Bolsonaro não divulgou qualquer reunião com esportistas para tratar do tema desde o início da campanha presidencial.

‘Esporte é lazer, e lazer não é importante’
O duelo entre Bolsonaro e Lula no campo eleitoral é influenciado pelo campo esportivo, a rivalidade se estende entre Palmeiras, time de coração de Bolsonaro e Corinthians, time pelo qual o petista torce. É apenas mais um dos mesmos, tendo em vista que é extremamente comum o uso do futebol como trampolim eleitoral.

Se por um lado Jair Bolsonaro aparece em lives utilizando camisas de times de futebol, em especial a do Palmeiras e a do Flamengo, Lula já citou frases conhecidas do Vasco da Gama como a “torcida do Vasco é nós e a do Flamengo é eles” dita durante a sabatina do Jornal Nacional com os presidenciáveis antes do primeiro turno.

A poucos dias do pleito, coube a Neymar se posicionar na disputa eleitoral. O principal jogador do futebol brasileiro apareceu em um tiktok dançando a música de campanha de Bolsonaro. A reação foi imediata, personalidades do esporte voltados para o campo esquerdo responderam, como Casagrande que dedicou o espaço em sua coluna no UOL para dizer que o ídolo do Santos ‘já estava demonstrando ter um caráter duvidoso’.

Bolsonaro carrega uma longa lista de atletas que o apoiam, indo do futebol como Daniel Alves, lateral-direito do Puma do México e Felipe Melo, do Fluminense, e até em modalidades mais liberais como o vôlei com o multicampeã Tandara e o polêmico Mauricio Souza.

“Os atletas se posicionando acabam gerando uma grande repercussão pois divide o público, ainda mais em uma eleição onde só há dois candidatos. E isso pode tirar o foco do que realmente importa. Um exemplo foi o Neymar, ele apoiou o Bolsonaro e isso repercutiu a tal ponto que tirou o foco do tema do esporte na eleição. Acho que esse é o pior perigo“, criticou Lucas Guida, setorista esportivo no El Futbolero Brasil sobre os posicionamentos dos atletas.

A esperança eleitoral do atual presidente com o esporte foi por água abaixo ao ter a Copa do Mundo, principal evento esportivo do ano, jogado para Dezembro, onde não poderia aproveitar da forma eleitoreira que outros já aproveitaram. Em estudo do sociólogo Ronaldo Helal, não existe relação entre o vencedor do pleito presidencial com a Seleção Brasileira campeã do mundial no ano de disputa.

Jarbas Mourinho, professor universitário de ciência política, afirma que “Categoricamente, ambos os candidatos querem o melhor que o esporte pode oferecer: A simpatia, mas em troca dão apenas promessas vazias, algo que os eleitores podem entender e aceitar”, e alertou para a falta de interesse da própria população no tema, “Esporte é Lazer, e lazer não é importante”, completou.

Elefantes brancos x Legado nulo
A disputa presidencial que se envolve entre Bolsonaro e Lula se reflete no conceito de esquecimento do Esporte. Em meio a profusão de medalhas na Rio 2016, onde a delegação brasileira conseguiu o seu melhor desempenho com 19 medalhas sendo 7 de ouro, o investimento no setor voltou as manchetes do país.

“Isso acaba incentivando as pessoas a investirem mais no esporte, as últimas olimpíadas nós melhoramos nosso saldo da Rio 2016, com esportes que não eram tradicionais”, avalia Guida, que defende um investimento maciço no esporte através de uma lei.

Na ocasião, o famoso ‘bolsa atleta’ criado durante os governo do PT ganhou o centro das atenções entre as quais o uso de atletas militares também foi exaltado e criticado. A polêmica na edição das olimpíadas não era sobre os medalhistas conquistarem o êxito com tão pouco mas sim sobre a ‘indecorosa’ continência militar, sendo militar, à bandeira do Brasil.

“Historicamente a política usou o esporte como trampolim esportivo mas sem tratá-la com a atenção que merece. O esporte não tem retorno rápido como a cultura, ele demanda tempo de investimento no atleta, é a chamada ‘obra invísivel’, tanto para Lula quanto para Bolsonaro é algo que não agrega na campanha”, afirmou Lucas Sheraton, publicitário especialista em campanhas políticas.

O debate envolvendo o futuro do esporte, seja da profissionalização ou da melhoria dos aparelhos é muito mais concentrado nas esferas estaduais e municipais do que na federal. O legado de Lula e o PT para o esporte foi marcado por um mar de corrupção descoberto nas obras do Jogos Pan-americanos de 2007, Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.

A criação de elefantes brancos, traduzida na fala de Ronaldo Fenõmeno ao público que criticava as obras faraônicas, “Não se faz Copa com hospitais” marcou as manchetes brasileiras. Estádios como o Mané Garrinha, em Brasília e o Arena Amazonas, em Manaus são exemplos dos ‘elefantes brancos’ criados pelo PT.

Sem ressaltar as promessas que viraram dor de cabeça como o VLT de Cuiabá e o famoso trem-bala Rio-SP que sequer saiu do papel. Os eventos esportivos que supostamente colocariam o Brasil na lista dos países do primeiro mundo, na verdade o afundaram em dívidas.

Bolsonaro não foge tanto da raia, se por um lado o PT gastou mais do que se imaginava com obras superfaturadas e uma engenharia financeira de sabão, o governo ultra-conservador sequer gastou. O presidente reduziu todo um setor a uma das menores secretarias do Estado, além de encerrar o Bolsa Atleta em 2020, durante a pandemia.

Mesmo disputando a eleição em 2022, para 2023 o orçamento do esporte será reduzido ainda mais. A pasta precisará descobrir uma forma de atuar com 36% a menos de orçamento do que em 2021. A verba destinada a competições cairá de R$ 215,3 milhões para R$ 184,9 milhões. Mas é o dinheiro destinado ao esporte comunitário que sofrerá a maior perda, deixando o patamar de R$ 86,9 milhões para míseros R$ 8,9 milhões. Uma redução de 90%.

Com a caça aos números do esporte, Bolsonaro fala repetidamente na lei do mandante, criada como medida provisória em 2020 e que permitia ao time de futebol o direito de transmissão integral das partidas na qual era o mandante.

A utilização do argumento não é pela alteração da arcaica Lei Pelé, mas sim por ter criado um baque na Globo, que recorreu a Justiça para barrar a medida mas acabou, no final da ‘briga’, se tornando uma das maiores defensoras da mudança na lei esportiva.

“A minha esperança é que um dia a gente leve o esporte mais a sério, porque o esporte é uma grande função na nossa vida, sempre foi muito importante. Mas acho que não vai mudar” afirmou Arthur.

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