Perícia não identifica o que Rafael Ramos, do Corinthians, disse a Edenilson, do Internacional

O Instituto Geral de Perícias (IGP) divulgou em nota, nesta quarta-feira (8), que não identificou o que o lateral-direito do Corinthians, Rafael Ramos, disse ao meia Edenilson, do Internacional. O jogador do Colorado acusa o atleta corintiano de ter o chamado de “macaco” durante a partida entre as equipes no mês de maio, pelo Campeonato Brasileiro.
Segundo informado pelo instituto, “as imagens foram tratadas com softwares de melhoramento com qualidade o suficiente para a análise”, “não sendo possível identificar os movimentos realizados na porção interna da cavidade oral do jogador de camiseta branca (Rafael Ramos)”.

A perícia havia sido encomendada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que investiga o suposto caso de racismo. O IGP afirma que o laudo possui 40 páginas e foi enviado à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.

“É impróprio que a perícia oficial do Estado afirme, com responsabilidade do ponto de vista processual e científico, o que foi proferido pelo jogador na cena questionada”, afirma a conclusão do documento.
Nas últimas semanas, Rafael Ramos e Edenílson expuseram suas versões sobre o caso no Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo, que acompanha a situação no âmbito esportivo. Na ocasião, os envolvidos mantiveram suas versões sobre a polêmica.

O meia do Inter afirma ter sido chamado de macaco por Ramos, que, por sua vez, alega apenas ter xingado o jogador da equipe gaúcha sem qualquer expressão racista. O TJD-SP também deve contar com perícia própria para analisar o caso. Se for confirmado que Rafael cometeu o ato, a pena no campo do esporte é de R$ 100 mil mais suspensão de cinco a dez jogos.

O departamento jurídico do Corinthians também está acompanhando o caso. Rafael Ramos contratou duas perícias particulares que afirmam que ele não proferiu a palavra ‘macaco’ para Edenílson. Quando se apresentou ao Tribunal, o laudo foi entregue.

Confira a nota divulgada pelo IGP na íntegra:

“O Instituto-Geral de Perícias remeteu hoje à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre o Laudo Pericial sobre o pedido de perícia de leitura labial acerca dos fatos ocorridos em jogo no Estádio Beira Rio em 14 de maio.

Quatro vídeos foram enviados para análise. Um deles foi selecionado, por apresentar maior extensão da cena questionada e melhor qualidade de sinal. As imagens foram tratadas com softwares de melhoramento e apresentaram qualidade suficiente para análise. Da cena questionada, foram extraídos 41 frames.

Não sendo possível identificar os movimentos realizados na porção interna da cavidade oral do jogador de camiseta branca, é tecnicamente inviável localizar todos os vestígios que definem a sequência de consoantes e vogais emitidas. A maior parte dos gestos que compõem a fala ocorrem justamente no ambiente intraoral ou em outras porções internas, como a faringe e a laringe. Nem em vídeos com excelente qualidade de imagem é possível obter as informações do que se passa na parte não visível do aparelho fonador.

Sobre o pedido de exame pericial de leitura labial, ressalta-se que não foi encontrada metodologia científica, aplicada à análise forense de vídeos, que sustente esse tipo de trabalho. Existem apenas publicações sobre percepção visual da fala e aprendizagem de leitura labial. Além disso, o registro enviado não possui o som das falas que interessavam à investigação, tornando impossível a perícia de áudio.

Por essas razões, é impróprio que a perícia criminal oficial do Estado afirme, com responsabilidade do ponto de vista processual e científico, o que foi proferido pelo jogador na cena questionada. O Laudo afirma que “sem que haja o respectivo sinal sonoro para realização de adequada análise percepto-auditiva e acústica, é conceitualmente inviável a definição confiável e inequívoca da pauta sonora proferida por um indivíduo a partir, exclusivamente, das informações relativas aos gestos articulatórios componentes que sejam exteriormente visíveis (como os de lábios e mandíbula)”. O documento afirma ainda que “resultados advindos da tentativa de mapeamento do que teria sido enunciado por um locutor questionado em uma imagem sem o áudio de fala associado (e consequente sinal acústico) seriam meramente exploratórios, representando muito mais conjecturas em torno de possibilidades anatomofuncionais do que evidências materiais per se”.”

Suposto caso de racismo corre desde a primeira quinzena de maio, quando as equipes se enfrentaram em partida válida pelo Campeonato Brasileiro

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