Independentemente do que aconteça, o dia 6 de novembro de 2022 não sairá da memória dos torcedores do vascaínos por um bom tempo. Afinal, neste domingo, o Cruzmaltino enfrenta a maior decisão de seus últimos anos ao enfrentar o Ituano, fora de casa, em um confronto direto pelo acesso à Série A em um cenário totalmente inédito na competição na era dos pontos corridos. Um cenário que nenhum vascaíno queria estar incluído.
Em seu segundo ano consecutivo na segunda divisão, o Vasco teve diversas oportunidades de garantir o acesso à Série A durante a competição, mas sempre falhou e decepcionou seus torcedores. No último jogo, o maior exemplo que explica a temporada do clube. Invicto em casa e com São Januário pulsando com sua torcida do início ao fim, o Cruzmaltino recebeu o Sampaio Corrêa, que só havia vencido uma vez fora de casa em toda a competição. Uma vitória bastava para carimbar o passaporte e levar o torcedor à euforia. O que ninguém contava era que a invencibilidade chegaria ao fim e que a derrota viesse aos 52 do segundo tempo, literalmente no último lance do jogo. 3 a 2 e a instalação de um desespero geral.
Agora, o Vasco ainda depende somente de si para garantir o acesso. Afinal, basta garantir uma vitória ou um empate fora de casa que ele estará matematicamente garantido na primeira divisão em 2023, mas depender de si mesmo parece ser o maior problema do Gigante da Colina de 2022. Sempre quando parece que vai, não vai. Agora, será a última oportunidade do ano.
Mesmo com o fracasso de 2021, o Vasco sabe como é o gosto do acesso para a primeira divisão, já que está jogando a a competição pela quinta vez em sua história. Em 2009, 2014 e 2016, o Cruzmaltino exerceu seu tamanho e garantiu seu retorno à elite. Por isso, o O Dia conversou com três personagens importantes de cada um dos acessos do Gigante da Colina: Rodrigo Pimpão (2009), Edmilson (2014) e Rafael Marques (2016). Cada um dos três destrinchou os processos das temporadas e os problemas que são persistentes na história do Vasco, como política e finanças.
Em um jogo tão decisivo com um contexto tão específico, o Vasco pode contar com a força de sua camisa e a tradição de sua história para garantir o resultado que precisa contra uma embalada equipe do Ituano?
Rodrigo Pimpão, atacante do Vasco em 2009: “Imagino que somente a camisa não é o suficiente para ganhar nenhum jogo mais no futebol. Hoje todas as competições estão muito equilibradas. Com isso, um jogo como esse de extrema dificuldade para o Vasco tem que se jogar principalmente com o mental. A equipe do Ituano é uma equipe muito qualificada, que cresceu muito durante a competição. Vive um bom momento.”
Edmilson, atacante do Vasco em 2014: “O Vasco joga bem, joga mal, a torcida enche e quando o time mais precisa, não consegue o resultado. Esse jogo é o jogo da vida deles. Eles têm que fazer o possível e o impossível para subir esse ano. Acredito que só camisa não vença jogo. O Vasco tem tudo para terminar o ano na primeira divisão. A torcida vai apoiar e os jogadores tem que, pelo menos hoje, ser totalmente diferente das outras partidas e eu acredito que vai ser. Eu estarei sempre na torcida pelo Vasco, pelos torcedores e pelo jogadores para conseguir esse tão sonhado acesso. Acredito que consiga subir.”
Rafael Marques, zagueiro do Vasco em 2016: “Hoje somente a camisa não ganha jogo. O Vasco precisa mais do que nunca entender que é o jogo mais importante do ano. Este jogo define o que o Vasco vai ser nos próximos anos com a chegada da SAF, pois ter a SAF na série A é diferente de ter a SAF na série B. Acredito que o investimento passa pelo acesso, que se tornou uma obrigação maior ainda agora.”
Mesmo que só tenha conquistado o título em 2009, o Vasco obteve sucesso ao conquistar o acesso para a Série A em 2009, 2014 e 2016. Como foi a montagem do elenco e o planejamento esportivo nestes anos?
Rodrigo Pimpão, atacante do Vasco em 2009: “Fico muito feliz com o reconhecimento. Foi um ano muito especial para minha carreira. Mesmo com a grave lesão do braço na fase final do campeonato, eu tive grandes momentos com essa camisa, ao lado do Elton. Lembro até hoje um momento muito marcante pra mim, foi quando eu machuquei o braço e tiveram que cortar a minha camiseta. No jogo para o acesso no Maracanã, estávamos todos nós na roda para ir pra partida, quando o Dorival Júnior, nosso comandante na época, tirou a minha camiseta rasgada do bolso dele, falando que ‘muitos queriam estar ali jogando aquela partida, mas esse cara aqui, que sempre se entregou e dedicou a equipe, gostaria muito mais pois estava aqui e não pode jogar. Então vamos jogar também por ele’. Isso marcou muito. Nós tínhamos um grupo muito fechado. Dentro de campo dávamos a vida pelos nossos companheiros.”
Edmilson, atacante do Vasco em 2014: “A gente começou bem naquele ano chegando na final do Campeonato Carioca depois de 10 anos. O time estava certinho e todo mundo querendo, mesmo com os problemas de salários atrasados e problemas administrativos e de planejamento. A gente fez o melhor possível naquele ano, que o primeiro objetivo era subir. O Rodrigo Caetano, que é um cara profissional e sério, fez de tudo. Acho que o planejamento foi certo. O time, na Série B, estava encaixado certinho mas depois aconteceram algumas coisas. No final, deu tudo certo. Acho que aquele time tinha tudo para ser campeão, mas infelizmente não conseguimos. Tiveram problemas durante a temporada. Sempre falta alguma coisa, sempre falta mais. Aquele ano foi bom, mas poderia terminado com os títulos do Carioca e da Série B. Fizemos de tudo e graças a Deus conseguimos subir para primeira divisão naquele ano.”
Rafael Marques, zagueiro do Vasco em 2016: “Iniciamos aquele ano super bem em 2016, era um grupo forte após ter caído em 2015 na última rodada. Infelizmente, as lesões e saídas de jogadores prejudicaram muito o elenco. Tivemos uma sequência invicta muito positiva e isso ajudou na reta final da série B. O mais importante foi o apoio até o final da torcida.”
O Vasco vinha sofrendo com problemas políticos e financeiros desde o início do século, que afetaram o clube e influenciaram diretamente nos rebaixamentos do Cruzmaltino para a Série B. No entanto, com a chegada da 777 Partners e a criação da SAF, estes problemas foram sanados e o futuro parece promissor. Como era lidar com um ambiente conturbado afetado por uma política conturbada e um clube cheio de problemas financeiros?
Rodrigo Pimpão, atacante do Vasco em 2009: “Bom, temos que destacar os clubes que estão virando empresas, só não podemos esquecer dos compromissos não pagos antes disso tudo. Tenho uma ação jurídica com o Vasco que está há mais de 8 anos e não vejo nenhuma sinalização deste pagamento. Ação esta dos meus direitos e já ganha. Isso atrapalha, sim, dentro de campo, mas não coloco como ponto principal pois existem times que honram com seus compromissos e não conseguem obter bons resultados. O principal fator para obter um time vencer é elenco, grupo. Um time que consiga se entender e saber jogar junto.”
Edmilson, atacante do Vasco em 2014: “Isso aí é uma coisa que sempre acompanha o Vasco, infelizmente. Todo trabalhador tem seus direitos. Se você contrata um jogador, você tem que ser profissional com ele assim como ele tem que ser profissional com você. Agora com a chegada da SAF, o Vasco precisava disso e graças a Deus conseguiram. Se subir, vai ser melhor ainda. O Vasco sempre tem que estar na primeira divisão, mas infelizmente problemas políticos e financeiros sempre rondaram o Vasco. É difícil trabalhar assim. Em qualquer empresa é muito difícil você ter que trabalhar e não receber. Naquele tempo (2014), os caras prometiam que iam pagar, esperavam dar três meses (de atraso) e pagavam um. Então imagine você ter seus pagamentos para fazer, suas contas para pagar, você planeja tudo certinho e chega no mês que eles falam que vão pagar e não pagam. Isso em qualquer empresa. Infelizmente diferencia isso com o jogador de futebol, mas não é assim, todo trabalho é igual. Uns são bem remunerados, outros não. A gente se planeja para fazer nossas coisas, mas infelizmente o Vasco sempre teve esses problemas.
Aquele grupo foi muito unido, muito forte e todo mundo queria muito subir. Os jogadores que tinham ali, eu, Rodrigo, Guinazu, Kleber éramos jogadores muito cascudos e fortes. Então a gente conversava muito para sempre fazer o melhor dentro de campo e depois cobrar. Até porque o Rodrigo Caetano era um cara muito sério e cobrava também, então isso foi importante também com a vinda dele ao clube que se planejou, se estruturou e subiu naquele ano. Foi muito complicado, muito difícil subir com todos os problemas que o Vasco tinha naquele ano e ainda continua tendo. Eu espero que com a entrada da SAF seja totalmente diferente com a subida para a primeira divisão para o Vasco voltar e que tenha menos problemas políticos e financeiros, porque isso é importante para qualquer time do mundo.”
Rafael Marques, zagueiro do Vasco em 2016: “Infelizmente, os problemas extracampo, políticos e as eleições interferiram muito no nosso elenco. Muitas vezes não sabíamos a quem dirigir uma dificuldade do elenco. Acredito muito que a SAF da 777 venha para ajudar o Vasco a se recolocar no devido lugar, que é nas primeiras prateleiras do futebol nacional e mais a frente mundial. O Vasco é muito gigante para viver nestas oscilações de sobe e desce de divisão. Temos uma torcida apaixonada e gigantesca para isso. Unindo tudo, o Vasco tem tudo para voltar, mas precisa e tem a obrigação de subir agora.”
O Vasco enfrenta o Ituano neste domingo (6) no Estádio Novelli Junior, em Itu, às 18h30. O Cruzmaltino está na quarta colocação com 59 pontos, enquanto o Ituano vem em quinto com 57 pontos. Para subir, o Gigante da Colina precisa vencer ou empatar, mas ainda terá chances de garantir o acesso em caso de derrota com uma combinação de resultados.
Rodrigo Pimpão, Edmilson e Rafael Marques conversaram com o O Dia para analisar a situação dramática do Vasco, que enfrenta o Ituano para retornar à primeira divisão
About Author