Flamengo e Fluminense divergem sobre uso de ingresso digital

Torcedora do Flamengo fantasiada de personagem do “La casa de Papel” – Foto: Divulgação

O GLOBO: Por Diogo Dantas

Embora Flamengo e Fluminense estejam no mesmo caminho pela disputa dos títulos em 2022, os clubes se encontram em posições contrárias quando o tema é a venda de ingresso para os jogos de maior apelo no Maracanã. O Fluminense alega que já tem pronta a tecnologia para o chamado e-ticket, com QR code dinâmico, mas esbarra no Flamengo, que também pretende desenvolver a solução, mas adota cautela, e não aplicou em seus jogos a novidade.

O debate tem acontecido nos bastidores em meio a reclamações de ambas as torcidas em relação aos ingressos de papel e a proliferação de cambistas agindo tanto no estádio quanto na internet. No meio disso, outros personagens também sinalizaram seu posicionamento. Em reunião realizada no Ministério Público do Estado do Rio na última quinta-feira, Fluminense, Polícia Militar e MP debateram a possibilidade de mudança do protocolo que exige ingressos físicos em jogos de maior risco de segurança.

O Ministério Público entende que é preciso acelerar a implementação da tecnologia, e tem o aval da Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Porém, o movimento é visto como precoce pelos outros integrantes do grupo que implementa o planejamento de segurança desde 2018, como o Consórcio Maracanã e a própria Polícia Militar.

“A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro não é impermeável às modificações do planejamento estudado, dividido e executado em 2018. Principalmente, entende a tecnologia como avanço e aliada. Mas as autoridades de segurança pretendem implementar esse modelo mediante à preservação do perímetro próximo do estádio, apenas com fluxo de torcedores credenciados. No momento em que tudo for ajustado entre os envolvidos, com mínimo risco e máxima segurança na operação, não há dúvida de que será reformado o planejamento AREF (Avaliação de Riscos em Estádios de Futebol), permitindo o uso do e-ticket e cartões de sócios em jogos de bandeira vermelha”, disse a Ferj ao GLOBO.

Diante da obrigatoriedade do uso de ingressos de papel em jogos de bandeira vermelha no Maracanã, o Fluminense não conseguiu seguir com o uso do QR code na partida contra o Corinthians, pela Copa do Brasil, mas já vinha usando a ideia em jogos anteriores. A PM alega que a fiscalização nas barreiras fica mais fácil com ingressos físicos do que digitais, e apresentou relatório do jogo do Fluminense com o Fortaleza indicando problemas de cambistas, aplicativo que não funciona por falta de boa conexão com a internet e pessoas que não sabem usar o novo sistema.

“A Polícia Militar entende o avanço da tecnologia, não somos contra, mas os testes precisam avançar, para verificar como vai funcionar”, explicou o Tenente Coronel Hilmar Faulhaber, comandante do Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (Bepe) da Polícia Militar do Rio. O Consórcio Maracanã defende a nova tecnologia, mas também entende que ela precisa ser melhor testada e apurada.

Coordenador do Grupo Temático Temporário do Desporto e da Proteção ao Torcedor do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GTT Deporto/MPRJ), o procurador de Justiça Marcus Leal pediu paciência para que as falhas sejam corrigidas antes de qualquer alteração no protocolo.

“Acredito que os clubes avançarão na medida em que esses fenômenos sociais mapeados, que ocorrem nos eventos, fiquem claros e que os dados colhidos comprovem que é possível aplicar essa modalidade. Assim, cada clube implantará a sua operação de jogo, de acordo com o perfil do seu torcedor. Antes disso, é mais prudente que seja mantido o protocolo já testado”, afirmou.

Ao protestar pelo e-ticket, o Fluminense alega exatamente que ele pode ser importante para o controle de quem compra o ingresso, o que inibiria a ação de cambistas. É possível até monitorar a pessoa através do celular dentro do estádio, segundo fontes do clube. Já o ingresso físico muda de mão em mão. E embora a polícia diga que as falsificações são grosseiras e mais fáceis de detectar, há relatos que chegam aos clubes de bilhetes de gratuidade que são desviados e sobre eles se cola um adesivo de cortesia para a venda, que seria proibida nestes casos.

“O Fluminense está empenhado na mudança do protocolo que exige ingressos físicos em jogos de grande apelo por entender que a adoção do e-ticket com QR code dinâmico é uma das práticas mais eficazes de combate ao cambismo, além de evitar o transtorno de deslocamentos e de longas filas para retirada do ingresso com antecedência”, afirmou o clube em comunicado. Ficou acordado que no próximo jogo do Fluminense no Maracanã, contra o Fortaleza, no dia 10 de setembro, o e-ticket com QR code dinâmico continuará a ser adotado para os sócios-torcedores.

A diretoria do Flamengo foi alertada sobre várias destas situações e até agora não tomou medidas mais concretas, mas defendeu que se a tecnologia fosse aprovada a implantaria em uma semana. No Fluminense, a razão apontada para a inércia é que para o rival a eficiência na venda com o controle digital poderia fazer o plano de sócio-torcedor não ser tão atraente e lucrativo. Hoje, o Flamengo tem mais de 100 mil sócios, entre titulares e convidados, mas apenas 70 mil no máximo acessam o Maracanã. Com o ingresso de papel, muitos ficam de fora após movimentar o mercado paralelo. Contra o Atlético-MG, foram apreendidos quase mil bilhetes falsos.

No Flamengo, os relatos são de uma torcida mais acostumada com a troca de ingressos em jogos de grande apelo, apesar das reclamações. Pelo maior costume do clube em operar grandes jogos, os problemas relatados pela Polícia Militar são melhor absorvidos, sobretudo os que dependem de estrutura que o Maracanã sob gestão provisória não consegue solucionar, como internet de qualidade. O Fluminense, que projeta média de público de 40 mil torcedores, quer que todos os seus sócios entrem no estádio com QR code dinâmico e não tem o mesmo hábito de troca em grandes jogos.

CONFIRA A POSIÇÃO OFICIAL DO FLUMINENSE NA ÍNTEGRA
O Fluminense está empenhado na mudança do protocolo que exige ingressos físicos em jogos de grande apelo por entender que a adoção do e-ticket com QR code dinâmico é uma das práticas mais eficazes de combate ao cambismo, além de evitar o transtorno de deslocamentos e de longas filas para retirada do ingresso com antecedência.

O clube já adotou a tecnologia com os sócios em cinco jogos, com o intuito de testar os procedimentos. Todos os testes revelaram sua eficácia e segurança para o processo de aferição da validade dos ingressos.

O Fluminense vem realizando tratativas com todos os entes envolvidos nas operações de partidas – incluindo autoridades públicas – para adoção do QR code dinâmico de forma prática e segura. A última delas ocorreu em reunião com Ministério Público e Polícia Militar.

Abaixo, alguns pontos importantes sobre as práticas do clube em relação ao e-ticket com QR code dinâmico:

– O primeiro jogo com acesso por QR code dinâmico foi em julho. Para colocar o sistema em funcionamento, o clube e seus parceiros comerciais trabalharam por meses para que todo o processo operasse com eficiência.

– O mundo e as ferramentas tecnológicas mudaram muito em quatro anos, ou seja, desde que o atual protocolo foi elaborado, em 2018. O Fluminense busca modernidade, conforto e segurança para seus torcedores.

– Depois de baixado, o CR code que o Fluminense adota não exige funcionamento de internet, o que reduz riscos operacionais para acesso do código pelo celular no momento de ingressar no estádio.

– O Fluminense tem intensificado a comunicação por todos os canais disponíveis, o que tem facilitado o entendimento dos torcedores quanto à utilização do sistema.

– O Fluminense tem promovido shows e atrações dentro do estádio, antes das partidas, para incentivar o acesso de torcedores com antecedência e evitar o acúmulo de pessoas entrando de última hora.

– Com grandes públicos no Maracanã e forte crescimento no Sócio Futebol, o Fluminense vem investindo cada vez mais em tecnologia e segurança para os torcedores.

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