Jornalistas palpitam sobre possível ‘espanholização’ do futebol brasileiro com Flamengo e Palmeiras

Final da Supercopa do Brasil 2021 entre Flamengo x Palmeiras – Foto: Marcelo Cortes

ESPN: Neste domingo (21), Palmeiras e Flamengo se enfrentam no Allianz Parque, às 16h (de Brasília), pela 23ª rodada do Campeonato Brasileiro, em partida que opõe líder e vice-líder da competição – e que, dependendo do resultado, pode deixar o Verdão muito perto do título ou recolocar o clube da Gávea de vez na disputa pela taça.

Nos últimos anos, alviverdes e rubro-negros têm protagonizado disputa intensa por troféus, seja em mata-mata e pontos corridos. Os dois clubes também lideram todos os rankings financeiros do futebol nacional, com as duas maiores receitas absolutas e na casa de R$ 1 bilhão por temporada. Analisando elencos, também possuem alguns dos planteis mais estrelados de toda a América.

E, em 2022, as coisas não estão sendo diferentes. Ao que parece, Palmeiras e Fla disputarão o título do Brasileirão até as rodadas finais, e ainda têm chance de se encontrarem novamente na grande final da Conmebol Libertadores, como já aconteceu no ano passado, em Montevidéu.

Com seus rivais diretos vivendo momentos financeiros complicados, e com as SAFs ainda tentando “decolar”, palestrinos e flamenguistas podem “nadar de braçada” no futebol brasileiro, causando uma espécie de “espanholização” (ou seja, dominarem a modalidade como os gigantes Real Madrid e Barcelona fazem na Espanha)?

Para ter a resposta, o ESPN.com.br ouviu os comentaristas da ESPN, que deram sua visão sobre o tema.

Afinal, há chance de “espanholização” no Brasil, ou o futebol nacional não permite esse tipo de domínio? Confira abaixo as opiniões:

Paulo Cobos – Blogueiro do ESPN.com.br
Existe o risco, sim, de Flamengo e Palmeiras serem tão dominantes no futebol brasileiro como Barcelona e Real Madrid são na Espanha. Principalmente no curto e médio prazo.

Os dois times têm níveis de administração superiores, capacidade de investimento enorme, torcidas grandes. Não precisam correr no desespero para a solução das SAFs. Se um dia fizerem isso, será com negócios na faixa dos muito bilhões.

Mas não acredito que, em 20 ou 30, anos o Brasil terá essa tal “espanholização”. Não é possível que clubes como Corinthians, São Paulo e Vasco aspirem no máximo a ser um Atlético de Madrid…

Leonardo Bertozzi – Comentarista da ESPN e blogueiro do ESPN.com.br
Eu acredito que o futebol brasileiro funciona em ciclos. Lembro que a gente teve essa mesma discussão nos anos 2000, quando o São Paulo ganhou Libertadores, Mundial e três Brasileiros. Era o início da era dos pontos corridos, e todos falavam que seria o Bayern ou o Lyon das Américas. Mas isso não se confirmou.

O futebol brasileiro ainda tem muitos reflexos dos altos e baixos. O fato dos clubes serem associações, com eleições e vida política conturbada, muitas vezes faz com que uma gestão seja trocada por outra bem menos competente.

É claro que as equipes de maior investimento dominarão a ponta da tabela. Isso é normal aqui e no resto do mundo. Quem tiver os elencos mais caros, tende a predominar. Se forem os casos de Flamengo e Palmeiras, isso deve se manter por algum tempo.

Mas o futebol brasileiro ainda é muito cíclico e depende da qualidade das gestões. Você pode ter uma gestão mais responsável, uma que comprometa o médio e longo prazo do clube… Tem de tudo. E, por aqui, isso é ainda muito mais comum do que em outros lugares.

Gian Oddi – Comentarista da ESPN e blogueiro do ESPN.com.br
O termo espanholização é muito utilizado para se referir aos direitos de TV, o que logo de cara já não permite que o apliquemos para a dupla em questão, uma vez que o Palmeiras tem arrecadação bem inferior às de Flamengo e Corinthians quando falamos dessa receita específica.

De forma geral, o problema da utilização do termo no Brasil é que ele reflete uma preocupação muito maior com que o que “os outros” estão ganhando do que com aquilo que deveria ser prioritário: arrumar a própria casa, olhar para o próprio umbigo para fazer com que as receitas e a gestão financeira dos próprios recursos sejam as melhores possíveis em cada clube. Estamos longe disso.

Se em algum momento isso vier a ocorrer, talvez o debate sobre a distribuição das receitas de TV possa ser prioritário. Hoje, não: Flamengo e Palmeiras têm méritos próprios e claros nos momentos financeiros que atravessam e, pelo menos por enquanto, isso pouco tem a ver com a tal “espanholização” – até porque, fosse assim, o Corinthians obrigatoriamente estaria neste grupo.

Paulo Calçade – Comentarista da ESPN
O termo “espanholização” talvez não seja o mais adequado. Quando a gente fala nisso, trazemos as comparações dos elementos presentes na Espanha e as condições locais. Estamos falando de dois gigantes, e não existem equipes, por mais que Atlético de Madrid, Sevilla e Athletic Bilbao possam se esforçar, que cheguem perto da grandeza de Real e Barcelona em LaLiga. Estamos falando de instituições globais. O que acontece com Barcelona e Real Madrid interessa ao planeta todo.

A força desses dois times no futebol espanhol é desproporcional em todos os fatores: arrecadação, geração de receitas, interesse dos torcedores, da mídia, do mundo.

No Brasil, temos muitos times grandes. O Palmeiras é muito grande e hoje está num patamar elevado no futebol nacional, mas, em termos de torcida, não é quem está imediatamente abaixo do Flamengo. Então, por que está ao lado do Flamengo esportivamente agora? Porque fez aquilo que todos as equipes deveriam fazer do ponto de vista de gestão. E é isso que “vira a chave” em relação à Espanha.

Aqui, podemos ter duas equipes que se destacam das demais? Podemos. Mas não por serem maiores que os outros, mas sim porque fizeram decisões corretas do ponto de vista administrativo.

O Flamengo tem a maior torcida do Brasil, é verdade, mas o Corinthians está próximo e vive na região de maior força econômica do país, que é São Paulo, além de ter forte também em regiões do Paraná e Minas Gerais. É um time que tem características muito mal aproveitadas, mas que podem levá-lo dentro de alguns anos a uma condição forte.

Então, a “espanholização” não acabe aqui, porque o Brasil é muito diferente de lá. Aqui, estamos falando de uma questão de gestão. Na Espanha, é uma questão de quem é grande e quem nem chega perto.

No Brasil, quando tivemos a maior parte das equipes com projetos de SAFs, talvez o cenário seja outro. Pode ser que sim, pode ser que não. Os americanos podem engrandecer o Vasco, que tem um potencial gigantesco. O Vasco vai virar de novo potência? Pode ser. Vai custar caro? Vai, mas pode acontecer. Assim como pode acontecer com Corinthians, com São Paulo…

Então, acho que não cabe a “espanholização” no Brasil. No momento, Palmeiras e Flamengo se destacam muito pela gestão diferenciada dos outros, somada à grandeza que ambos obviamente têm. Com boa gestão, creio que outros podem se aproximar. Ainda mais porque, aqui, o futebol é muito mais cíclico do que na Espanha.

Gustavo HofmaN – Comentarista da ESPN e blogueiro do ESPN.com.br
Não acho possível. Entendo que, no Brasil, o termo “espanholização” se refere ao domínio de Barcelona e Real Madrid na Espanha, apesar de aqui também existe o Atlético de Madrid, que foi campeão espanhol na temporada retrasada e é um clube grande. Mas é lógico que Real e Barça monopolizam o futebol espanhol historicamente.

E é justamente esse ponto que me faz duvidar dessa “espanholização” no Brasil: pela nossa formação históric de futebol, temos muitos clubes grandes. Isso se deve basicamente aos Estaduais. Até os anos 1970, 1980, eles eram os principais torneios do futebol nacional. Com isso, os clubes conquistavam grandes títulos com uma frequência muito maior do que se houvesse apenas o Brasileirão e a Copa do Brasil, com é atualmente em termos de troféus nacionais.

Depois, surgem a Taça Brasil, o Robertão e o Brasileiro, e aí aos poucos esses torneios vão ganhando a importância devida. Mas o Brasil tem vários times grandes por causa da formação histórica, e é por isso que a “espanholização” não deve acontecer.

Claro que, hoje, Palmeiras e Flamengo monopolizam, já que contam com projetos de maior capacidade financeira que demais. Mas o Corinthians, se conseguir manter sua recuperação, e o São Paulo podem brigar de igual para igual. Saindo do chamado “eixo”, Grêmio e Inter são clubes de potencial financeiro muito grande. Atlético-MG e Cruzeiro a mesma coisa, sendo que Cruzeiro está passando por um momento de reformulação em bsuca de um novo caminho. E o Atlético já está em um patamar de brigar com Flamengo e Palmeiras. O projeto iniciado nos últimos anos rendeu títulos importantíssimos recentemente. Nesta temporada, não vieram os resultados que se imaginava, mas o Galo está num patamar alto também.

Há ainda um outro pontos: as SAFs, que são novidade no mercado brasileiro. O que vai acontecer com Vasco e Botafogo? Até onde esses projetos vão? Até que patamar irão os investimentos de John Textor e 777 Partners?

Claro que ser um time grande historicamente não vai lhe render um futuro garantido, a gente tem visto vários casos. Mas minha visão é que o cenário de domínio do futebol brasileiro ainda está bastante aberto.

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